sábado, 28 de agosto de 2010

O melhor de Camões



* Tamanho o ódio foi, e a má vontade,

Que aos estrangeiros súbito tomou,
Sabendo ser sequazes da verdade,
Que o Filho de David nos ensinou.
ó segredos daquela Eternidade,
A quem juízo algum nunca alcançou!
Que nunca falte um pérfido inimigo
Aqueles de quem foste tanto amigo!

* Ó grandes e gravíssimos perigos!

Ó caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!
No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?

* Ulisses é, o que faz a santa casa

À Deusa que lhe dá língua facunda,
Que, se lá na Ásia Tróia insigne abrasa,
Cá na Europa Lisboa ingente funda.»

«Quem será estoutro cá, que o campo arrasa :
De mortos, com presença furibunda?
Grandes batalhas tem desbaratadas, :
Que as Águias nas bandeiras tem pintadas.»

* Quem faz injúria vil e sem razão,

Com forças e poder em que está posto,
Não vence; que a vitória verdadeira
É saber ter justiça nua e inteira.

* desculpa-me o que vejo;

que se, enfim, resisto
contra tão atrevido e vão desejo,
faço-me forte em vossa vista pura,
e armo-me de vossa fermosura.

- canção "Fermosa e gentil dama"

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

* "Ó gente que a natura / Vizinha fez de meu paterno ninho,

Que destino tão grande ou que ventura / Vos trouxe acometerdes tal caminho?
Não é sem causa, não, oculta e escura, / Vir do longínquo Tejo e ignoto Minho,
Por mares nunca doutro lenho arados, / A Reinos tão remotos e apartados."


- "Os Lusíadas, canto VII"
(Fonte Os Lusíadas, melhores partes) =]

"... der Liebe, die darin besteht, daß zwei Einsamkeiten einander schützen. "

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